06/09/2009

Cama compartilhada: uma escolha familiar


Antes de o meu filho nascer, meu passatempo predileto era arrumar seu quarto, preparar o berço (que ele ganhou da avó), ansiosa para vê-lo ali, dormindo como um anjo, só para admirá-lo, acarinhá-lo... Quando ele nasceu, porém, olhei para aquele bebezinho tão frágil e indefeso e percebi que o queria bem pertinho do meu peito, sentindo sua respiração, dando-lhe calor e oferecendo-lhe aconchego pelo tempo que precisasse. E esse tempo era só nosso, só nós o conhecíamos.
Nos primeiros dias, todos achavam normal que ele dormisse ao lado da cama, mas faziam questão de deixar seus “maravilhosos” conselhos sobre a necessidade de a criança aprender a dormir sozinha, no seu próprio quarto, e que não fosse atendida quando acordasse aos berros, para “perceber bem cedo que precisa ser independente”. Eu me perguntava: “Como um ser deste tamanho pode se virar sozinho?” e a resposta era sempre a mesma: “Ele não pode, não por enquanto. Por isso tem mãe”. Os meses se passaram e a pressão por parte dos familiares, amigos e médicos (o GO e a pediatra) era cada vez maior. Conversei com meu marido e decidimos que, aos oito meses, ele estava pronto para dormir no próprio quarto. Foram noites difíceis e dias de mal-estar e sonolência. Eu e meu marido nos alternávamos nos cuidados durante a madrugada e, por inúmeras vezes, dormi sentada na cama, amamentando.
Até que um dia, estava tão cansada que já não podia ficar ali, sentada; novamente dormi amamentando, mas dessa vez, recostada num travesseiro, muito mais confortável. Meu marido também dormiu a noite toda, não precisou levantar assustado para buscar nosso filho em outro quarto. Estava decidido: em nome do nosso conforto (e arrisco dizer, saúde também) ele passou a dormir na cama, onde podia ser atendido prontamente, sem que saíssemos do nosso ninho. As noites ficaram mais calmas e os dias, cheios de disposição. Estávamos satisfeitos com o novo arranjo, que só trouxe mais afeto e cumplicidade à nossa família...
Claro que as críticas eram inúmeras e nos rondavam como fantasmas, deixando-nos muito confusos. Será que por conta da cama compartilhada nosso filho se tornaria inseguro? O fato de dormirmos juntos traria algum risco físico ou emocional? E nós, como casal, não teríamos nossos momentos de intimidade? Pesquisei muito, li todo tipo de teorias, pedi conselhos... Meu marido também fazia suas pesquisas, conversava com os amigos e ouvia as maiores barbaridades. Mas, em meio a tantas informações, filtramos aquilo que funcionava (e ainda funciona) para nossa família. Eis o que restou:
- Crianças são interdependentes. Reconhecer isso é valorizar a pessoa que colocamos no mundo, respeitar suas necessidades e limitações e ajudá-la a construir de forma saudável sua individualidade.
- Cama compartilhada ajuda a estabilizar o sono do bebê, regular os períodos de mamada e manter bons níveis de ocitocina e prolactina na mãe, favorecendo a amamentação.
- Pode ser muito benéfica também por facilitar alguns aspectos, como: proteção, monitoramento, fácil acesso à alimentação, redução dos episódios de choro durante a noite; por conseqüência, os pais conseguem dormir mais e melhor.
- Pode ser uma ótima alternativa para pais que passam muito tempo fora, pois com a cama compartilhada, têm mais tempo com os filhos, conhecendo-os melhor e curtindo-os.
- Se o casal está confortável com a presença da criança em sua cama, naturalmente busca outras maneiras de vivenciar sua intimidade. Enquanto a criança dorme no quarto, todos os outros ambientes da casa estão disponíveis para serem explorados. Pode ser uma boa oportunidade para sair da rotina.
- A menos que os pais tenham ingerido qualquer tipo de drogas (remédios para dormir ou qualquer outro que altere o sono, bebidas alcoólicas e/ou outras substâncias), as chances de sufocar o bebê enquanto dorme são quase inexistentes. Mesmo os estudos científicos sobre o assunto, são muito vagos e tendenciosos, influenciados por questões morais, econômicas ou religiosas.
- Para um maior conforto de todos, a família pode optar por uma cama mais larga (como a king size) ou mesmo colocar os colchões no chão, ou sobre um tablado. Em muitas famílias, essa experiência é positiva.
- Aos poucos e naturalmente, a criança começa a sentir vontade de dormir na própria cama, sabendo que tem a liberdade de, eventualmente, voltar à cama dos pais. Essa necessidade de dormir junto é própria dos mamíferos, e nos acompanha durante toda a vida. Não observar essa necessidade, é negligenciar a própria natureza do ser humano.
- Se, por algum motivo, um dos parceiros ou o casal não se sentir mais confortável com a cama compartilhada, recomenda-se o processo gradual de transferência da criança para o seu quarto, ou para outra cama no mesmo quarto. Há muitas técnicas para fazer essa transição de forma amorosa e paciente.
Poderia citar inúmeras razões, mas para minha família, essas foram as mais importantes. Acima de tudo, o que importa é que nós fizemos uma escolha consciente, considerando nosso bem-estar, o tipo de relação que estamos construindo com nosso filho e os valores que acreditamos e procuramos colocar em prática. Nossas expectativas foram reavaliadas, os pré-conceitos caíram por terra e encontramos um caminho que deixa nossos corações mais alegres!

Nicole Passos

2 comentários:

Ana Paula - Journal de Béatrice disse...

Lu!! Mario!!
Ja escutamos o nosso primeiro "mauvaises habitudes" por conta do colo e cama compartilhada! So vou dar um desconto (e o comentario nao me rendeu mais do que uma cara de paisagem e entrar por um ouvido e sair pelo outro) pq o comentario veio de quem da palmadas educativas, vive berrando o dia todo "ARREEEEETEEEEEE", e os filhos sao uns pestinhas! Rarara! Adorei o post. Agora, so pra fazer um contraponto, da uma olhada no link

http://www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp?blog=475&coldir=1&local=1&pg=1&section=Blogs&source=DYNAMIC,blog.BlogDataServer,getBlog&template=3948.dwt&tipo=1&topo=3951.dwt&tp=&uf=1

No titulo "deixa-los chorando ou não". Voce vai ver que a MAIORIA dos pais fazem... Passar noites em claro, passando de um quarto para outro "é normal"! Beijo grande pra vcs!

Anônimo disse...

Adorei o texto :o)

Aqui em casa fazemos uma super cama compartilhada e funciona super bem.

Beijos.

Paty Bortolotto