Muito cedo, Emmi Pikler pressentiu que o recém nascido, para adquirir, manter, ou abandonar diferentes posições do corpo, mudar de postura ou se locomover livremente, ou ainda para aprender a se levantar e andar, não tem nenhuma necessidade de qualquer intervenção de um adulto. A criança passiva se torna uma pessoa ativa independentemente da ajuda de um adulto. A pesquisadora Emmi Pikler até duvida que esta ajuda possa acelerar o desenvolvimento do bebê.
______ A experiência de Emmi Pikler
Suas idéias se fundamentam não apenas em suas experiências profissionais, mas também sobre as idéias de seu marido que era « pedagogo progressista ». Com o nascimento de seu primeiro filho, no inicio dos anos 30, ela decide não deixar de acompanhar o seu desenvolvimento, e respeitar o seu ritmo individual. Assegura assim, desde cedo, a possibilidade a seu filho de tomar iniciativas, de se movimentar livremente de brincar de acordo com a sua vontade. Como mãe, jamais coloca a criança em uma postura que ela não seja capaz de adquirir ou de manter sozinha. Ela e o marido não exigem da criança que faça movimentos diversos, e se abstém de exercer uma influência direta sobre o seu desenvolvimento motor.
Em contra partida, eles criam condições que lhes permitiam viver em serenidade e harmonia, assegurando à criança o espaço necessário para os seus movimentos livres, indo inclusive além do que conheciam na época: eles cuidam para que as roupas que o bebê usava não atrapalhem o decorrer de suas atividades; e que os brinquedos oferecidos, possam ser manipulados sem a ajuda de quem quer que seja; e que os mesmos possam lhe oferecer experiências adequadas, enfim eles cuidavam para que a criança se sinta envolvida de cuidados afetuosos de seus pais, podendo experimentar todas as atividades e conhecer o mundo por si próprio.
______ O respeito do Ritmo próprio de cada criança
Naturalmente, o que motivou Emmi Pikler de experimentar suas idéias, foi o fato de estar convencida de quão justa era sua hipótese: ela acreditava que nas circunstâncias descritas acima, a criança que segue seu ritmo próprio e faz suas próprias descobertas é capaz de aprender melhor a sentar-se, ficar de pé, caminhar, brincar, falar, refletir, etc... do que aquela criança que é forçada a atingir diferentes estágios do desenvolvimento que nós adultos julgamos corresponder a sua idade.
Tendo o desenvolvimento de seu filho correspondido, em todos os domínios, às expectativas do seu marido e as suas próprias, Emmi Pikler, de retorno à Hungria, torna-se pediatra de famílias e encoraja nesse mesmo espírito, durante vários anos, a educação de mais de 100 recém-nascidos.
______ A confiança na capacidade de desenvolvimento de seus filhos
Aconselhando os pais de forma madura e refletida e bastante detalhada, suas idéias fundadas em observações regulares e continuas, os ajuda, antes de qualquer coisa, a ter confiança na capacidade de desenvolvimento de seus filhos. Tendo em conta as necessidades da criança, eles conseguem organizar cuidadosamente um modo de vida tranqüilo e harmonioso, respeitando seu ritmo de sono e repouso, estabelecendo um regime alimentar equilibrado e simples, definido pelo apetite da criança. Eles determinam também quanto tempo a criança pode ficar ao ar livre, tanto no inverno como no verão.
______ Criar um espaço adequado para as descobertas
Eles não interferem nem em seus movimentos, nem nas brincadeiras, não forçam as crianças a fazerem exercícios, mas deixam a disposição da criança um lugar adequado para suas descobertas, mesmo em habitações pequenas. As melhores ocasiões de estarem com seus filhos, são oferecidas essencialmente, pelas refeições, trocas, banho e cuidados de higiene.
Durante o decorrer de suas atividades, os pais tomam cuidado de não apressar e de levar em conta a necessidade e as reações de seus filhos, mesmo que a participação da criança torne mais lenta as atividades rotineiras: eles podiam aproveitar para saborear o que acontecia entre eles.
______ os benefícios de uma “organização” maior da vida do adulto
Emmi Pickler constatou, em seus anos de experiência que as crianças sentiam-se naturalmente felizes, curiosas, vivas e ativas, quando tratadas dessa forma. E que seu desenvolvimento decorria harmoniosamente e também que suas relações tanto com os pais quanto com outras pessoas era muito bom. Quanto aos pais, eles também estavam contentes. Mesmo que o sistema de educação proposto pela Dra. exigisse deles uma reflexão e uma organização maior de suas vidas e de seu ambiente para de fato oferecer à criança a possibilidade de se sentir em segurança, os pais aceitavam de praticar seus conselhos e ficavam satisfeitos de seus papéis.
Eles estavam bem convencidos dos benefícios dessas idéias e constatavam que seus filhos adquiriam experiências interessantes, sem suas intervenções, no curso de suas atividades independentes: eles não achavam que para ser bons pais, eles deviam estar sempre próximos de seus filhos, nem que eles eram obrigados a fazer sempre coisas com eles.
As crianças que ficam entretidas com suas atividades independentes não exigem de seus pais uma permanência constante, ou que eles participem de suas atividades, pois não se sentem impotentes sem eles. E os pais, constatam o valor da atividade serena e independente de seus filhos sem sentirem-se culpados de estarem fazendo outra atividade de seu interesse, ficando sempre, é claro, a vista e a disposição. Eles não se sentem escravos de seus filhos e não se consideram como mais um de seus jogos. Ao contrário eles encontram prazer em observar o seu desenvolvimento, sentem-se felizes em sua companhia e na relação com eles.
Eles esperam ansiosos o momento de se encontrarem, e mesmo que a criança deseje prolongar seus momentos de brincadeira, os pais não consideram isso como agressividade ou um comportamento inapropriado.
As « crianças Pickler » crescem há algum tempo e provam, por suas vidas, seus trabalhos e como pais, o que é mais importante, que a ajuda que seus pais receberam foi muito benéfica.
Luciana Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário