30/08/2009

Dicas para iniciar a alimentação do bebê


O início da alimentação da criança é um momento crítico. O que me deixa inquieta é que as mães que encontro se sentem em geral um pouco “perdidas”, sem saber no que acreditar neste momento. Ouço freqüentemente comentários do tipo: “- A pediatra falou que o bebê deve começar com a papinha mês que vem, quando completa quatro meses”.
Olhar para o bebê e não para o relógio
Porém, como todo o processo de desenvolvimento da criança, a passagem da alimentação líquida para a alimentação sólida respeita alguns critérios individuais e NÃO ACONTECE DE FORMA CRONOLÓGICA.
Para que a criança consiga fazer essa passagem importante do seu desenvolvimento, em geral ela já precisa:
- ter alguns dentes (pelo menos um);
- conseguir segurar e soltar objetos (sem ajuda);
- conseguir estar em outras posições, além da horizontal de barriga pra cima.
Além disso, é fundamental ter em vista que essa passagem significa para a criança a aquisição de AUTONOMIA, por isso deve-se respeitar a vontade dela de se alimentar sozinha e na hora que seja de seu interesse. Nesse caso, fica bastante difícil impor uma data definitiva para esse acontecimento.
Primeira fase : A criança explora os alimentos, brincando com eles
Note que a criança irá manifestar claramente o seu interesse pelo alimento, BRINCANDO com ele.
No inicio é um interesse para explorar novas texturas e cores, o que pode não ter nada a ver com nutrição. Provavelmente, a criança tentará pegar o alimento do prato dos pais e levará até a boca como faz com qualquer outro brinquedo. Por isso é importante dispor para a criança alimentos que ela possa MANIPULAR SOZINHA como, por exemplo: pedaços de raízes cozidas (mandioca, batata salsa, inhame,...) de um tamanho que caiba nas mãos do bebê e que não sejam muito pequenos.
Assim, ela poderá manipular esse alimento explorando-o da forma que lhe interessa e que é capaz de fazer com autonomia. É através dessa “brincadeira” que a criança sentirá vontade e prazer na alimentação, levando essa sensação para toda a vida. As papinhas não são nada adaptadas a essa necessidade da criança.
Segunda fase: Acidentes “saudáveis” de percurso
Seguindo essa fase inicial de exploração, a criança passa para uma etapa de “alimentação acidental”, quando seu corpo começa a se acostumar com a ingestão de sólidos.
Normalmente os adultos se assustam, pois o bebê tende a regurgitar pedaços muito grandes e parece estar sufocando. Nesta hora, o que prejudica mais a criança é o medo e o susto de quem está em volta. O melhor que o adulto tem a fazer é MANTER A CALMA, e ficar por perto, evitando colocar o dedo na boca da criança para retirar o alimento. Atenção : O bebê CONSEGUE fazer isso sozinho e é importante que consiga fazê-lo.
Neste momento, provavelmente a criança já esteja ingerindo alguns pedaços menores de alimento e sentirá muito prazer em continuar manipulando-os. O adulto pode ajudar com uma colher, oferecendo o mesmo alimento ligeiramente amassado com o garfo. Assim ela começará a experimentar a satisfação de se alimentar.
O alimento mais adaptado a cada momento
Outro detalhe importante a se considerar é a escolha do alimento mais adaptado. Em geral, percebo que muitas mães iniciam com frutinhas e papinhas. Perceba que frutas são ácidas, e têm bastante açúcar e gosto forte. Para a criança que começa a sua vida alimentar, o ideal é que lhe seja oferecido:
- em primeiro, raízes e tubérculos,
- depois troncos,
- seguindo de flores
- e por último, os frutos.
Há bastante variedade em cada grupo, e eles no inicio são oferecidos sozinhos. Depois podemos misturar alimentos do mesmo grupo. Em seguida para fazer a passagem de um grupo a outro acrescentamos um ingrediente do grupo que segue ao atual. Assim, damos tempo para a criança se adaptar a cada família de alimento. E quando introduzimos uma novidade, podemos perceber claramente a sua reação. Dessa forma, as frutas serão os últimos alimentos a serem oferecidos à criança, e isso provavelmente coincidirá com o momento em que a criança terá maior atividade física e real necessidade desses açúcares.
Para as crianças que são amamentadas nenhum outro tipo de líquido é necessário. É importante ressaltar que a introdução de outros líquidos e de mamadeiras pode interferir na duração da amamentação. Por isso, se o desejo da mãe é uma amamentação prolongada, o melhor é evitar qualquer outro tipo de líquido além do leite materno.
Em síntese, a criança que inicia uma alimentação de forma prazerosa levará isso para toda a vida e dificilmente será uma criança com dificuldade em se alimentar. Ela saberá a quantidade que a satisfaz e manifestará o seu desejo pelo alimento quando sentir necessidade.
Feita a passagem à alimentação sólida de forma respeitosa ao ritmo individual da criança, ela terá conquistado também uma etapa importante para a sua autonomia.
Luciana Lima
Doula e psicóloga, Luciana Lima coordena o Espaço Aobä e é responsável pelo Café Colonial com bebê, a cada mês, onde ela da dicas a mães sobre o desenvolvimento livre da criança nos primeiros anos de vida.

Um comentário:

Nitiananda disse...

Lu, excelente texto. Muito esclarecedor. Posso compartilhar no meu blog com os devidos créditos? Bjos