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21/06/2011

Deixa que eu chore minha sorte cruel e que suspire a liberdade


Estou num vôo entre o Rio e Curitiba e mais a frente, na segunda fileira, tem uma criança que chora e uma mãe que, visivelmente incomodada, tenta com vários argumentos mostrar como é feio aquele choro e quanto ele incomoda os outros passageiros.

Não tenho como não me recordar de como foi tratado meu choro e de pensar como tenho tratado o choro das minhas crianças.

lascia ch’io pianga
mia cruda sorte,
e che sospiri la liberta!


“Deixa que eu chore minha sorte cruel e que suspire a liberdade!” são os versos da aria de Haendel em que o choro aparece como maior expressão da liberdade humana.


Estou bastante convencido que nos libertamos através da expressão de nossos sentimentos. Através do choro, purifico as emoções que acumulo ao longo das diferentes experiências do dia a dia resultando em real aprendizado. De certa forma, quando choro, aprendo.


Mas então porque insistimos em anular esta condição fisiológica fundamental e exigimos que nós mesmos e as nossas crianças engulam o choro?

Acostumamos a pensar que homem não chora, e que choro é coisa de fraco. É incrível como esta forma de ver pode até marcar uma civilização inteira. Já há bem mais de um século, no poema épico de Gonçalves Dias,  I Juca Pirama, “aquele que deve morrer”, o herói  chora para evitar o sacrifício e poder voltar e cuidar de seu pai. Mais tarde, o pai recrimina este ato de desonra e só sossega quando o filho prova que é suficientemente violento para valer a pena ser sacrificado. Quanta violência tem sido causada porque apenas não conseguimos entrar em contato com nossos sentimentos!

Quando pequeno, eu apanhei de cinta. E nestes momentos, recordo-me de que eu me dizia que não ia chorar. E fazia muita força, pois pra mim era uma forma de resistir contra toda aquela falta de diálogo. Deu certo. Fiquei tão endurecido que não tinha problema para bater em todos os meninos da minha idade nas brigas de rua.  Hoje percebo que, na casa dos meus pais, falávamos um monte, mas conversávamos muito pouco. Faltava silêncio entre nós para percebermos e acolhermos com sensibilidade as nossas emoções. Assim, foi só bem mais tarde que notei que era necessário que eu aprendesse a chorar.  Talvez, toda a bronquite asmática da minha infância pudesse ter sido evitada se meu choro tivesse espaço, e se meus pais se permitissem chorar também.

Laura Gutman no seu livro “A maternidade ao encontro da própria sombra” relata o seguinte : “As doenças respiratórias tem a ver com as pequenas crises cotidianas ...As mães tem uma infinidade de motivos para chorar, por isso os bebês choram muito e se resfriam com frequência. O resfriado tem a ver com o choro e com o excesso de água que precisamos expulsar. As vezes não nos permitimos chorar, nem permitimos que os pequenos chorem. O plexo da emoção esta localizado na altura do peito. Sentimos a angustia justamente ali.”

Quando tem emoção na história, não tem certo ou errado. Se o choro vem é porque tem que sair, é um fluxo vital, é como um rio que precisa desaguar para cumprir seu curso. Na verdade quando o choro aparece, basta apenas estarmos presentes, de preferência em silêncio, e acolher o choro, tanto o nosso como o do outro. Nenhuma explicação é necessária. Nada do que for dito nesta hora vai ajudar muito, e no caso de uma criança ainda menos. É mais importante pegar no colo e esperar passar. Ai quando tiver passado vai dar pra conversar e construir algo baseado no respeito aos sentimentos.

Não tem nada de mais verdadeiro sobre uma pessoa do que aquilo que ela sente. E ninguém tem o direito de dizer que o que o outro sente está errado ou que não é importante. Nem tampouco de valorizar excessivamente o que o outro está sentindo. Basta apenas respeitar e permitir que o outro chore o choro que precisa chorar. Homens livres são aqueles que reconhecem suas necessidades e expressam seus sentimentos. Criar uma criança livre é respeitá-la de forma que isso aconteça, se permitindo chorar também, se necessário for.

São quase oito da noite, sigo no avião. A criança está cansada e muito irritada por ter que ficar presa ao sinto, longe da mãe. Finalmente aterrissamos. A mãe a pega no colo, e em silêncio, o choro passa.


Autor: Mario Lima

02/06/2011

O mundo que sonhamos

Semana passada estive no CICI (conferência de cidades inovadoras) em Curitiba, pois trabalho e tenho interesse no tema de como as cidades vão superar seus desafios com foco na sustentabilidade. Esperando a fala de abertura do Jaime Lerner, auditório lotado, eu conversava com um colega, quando uma imagem me chamou a atenção. A mais terna de todas as imagens: uma mãe levando consigo seu filho.
Um bebê de poucas semanas tinha o prazer de estar junto do corpo e da respiração da sua mãe que o carregava com um wrap sling. Não pude deixar de me aproximar e meio timidamente perguntei : é da Aobä?

Anos atrás, quando a Lu e eu, na cozinha da nossa casa em Paris, começamos a pensar em voltar para o Brasil decidimos que não voltaríamos apenas, mas sim que iríamos para o Brasil para realizar um projeto cujo valor central seria o de mais harmonia e beleza na relação entre pais e filhos. Percebemos logo que o Wrap Sling (echarpe em francês) seria o produto central deste trabalho, pois é uma solução que integra tudo o que queríamos passar.  Como a Lu sempre diz, toda civilização ao longo da história da humanidade teve seu carregador para que as mães não deixassem de ter seus filhos próximos do seu corpo. E quanto mais intenso foi este contato, mais pacifica e criativa era aquela civilização.

Assim me recordo que na época brincávamos de sonhar com o dia em que veríamos as mães (e pais) andando juntinho com seus bebês, nas ruas, no trabalho, em casa, num abraço proporcionado pelos nossos wraps. Eu vibrava com esse sonho, pois percebia os inegáveis benefícios que este contato afetivo fazia ao Rudá e à Serena, que então tinha apenas alguns meses.

A moça da palestra se voltou delicadamente e com um sorriso me respondeu: é sim, é da Aobä. Você conhece? 
Este fogo de alegria que mora dentro da gente se acendeu no momento, e me senti como o sol de manhã. Dá pra imaginar o tamanho do meu sorriso. Depois de alguns anos, já não era mais sonho, e era melhor que o sonho.

Eu via uma mulher, podendo participar de uma conferência internacional sem ter que sofrer para deixar seu filho com outra pessoa ou em uma instituição. Eu via uma mãe que podia responder às necessidades do seu filho sem ter que deixar de participar de algo importante para ela, garantindo sua total autonomia. Fascinante podermos proporcionar esta alternativa às famílias que trazem dentro de si a vontade de estarem com seus filhos.

Mais tarde, na sua palestra, o Jaime Lerner resumiria que uma cidade, ou a vida, precisa ter um sonho e que você precisa acreditar nele. Segundo ele, com o tempo você esquece do sonho, mas ele não esquece de você, e dá uma volta e te encontra mais tarde, e diz: Oi! Lembra de mim? Eu sou o teu sonho! E é neste exato momento que você tem a oportunidade de não deixar de viver sem ele.

Ao ouvir isso, eu apenas sorri, e olhei para a mãe que, a alguns metros de onde eu estava, assistia a palestra e doce e discretamente amamentava seu bebê.

Autor: Mario Lima

18/04/2011

Janet Balaskas rumo a São Paulo


Após três dias de grandes ensinamentos no curso de Formação Profissional em Parto Ativo em Curitiba, Janet se prepara para ir a São Paulo onde realizará dois grande eventos.


A convite da Professora Simone Diniz, Janet estará dia 20 na Universidade de São Paulo em um debate discutindo sobre os movimentos de mulheres pela mudança no parto. Janet ficou entusiasmada em poder contribuir com este momento tão delicado pelo qual passa o curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. “As mulheres brasileiras não podem permitir que este curso feche” disse ela em entrevista ao blog Parto no Brasil.

Depois de colaborar com o movimento nacional em prol dos direitos das mulheres em relação ao parto de seus filhos, Janet fará no dia 21 de abril uma palestra vivencial de quatro horas, votada ao público profissional e também aos casais e mulheres gestantes. Janet falará sobre a compreensão da fisiologia do nascimento e os benefícios das posições verticais, a função dos hormônios, como o útero funciona, o impacto do medo e da ansiedade e a importância do ambiente. Falará ainda sobre os reflexos do recém-nascido e o instinto e intuição da mãe.

É com muita alegria que o Espaço Aobä convida o público paulistano a comparecer nestes dois momentos únicos em São Paulo. As inscrições para a palestra vivencial Concretizando o Parto Ativo estão sendo feitas online, aqui em nosso blog, basta acessar o link abaixo e seguir todos os passos.

08/03/2011

Empoderamento da mulher e o florescer do mundo feminino

Em homenagem a Rosana Oshiro no dia internacional da mulher

Quem trabalha com gestantes tem usado bastante o termo: «empoderamento».  Mas afinal, o que isso quer dizer?
É paradoxal, mas parece que o resgate da atitude da mulher ao gestar, parir e cuidar do bebê, tem exigido a introdução de novas palavras no dicionário.
Maternagem, Atachement, Slingar, Empoderamento, etc, são palavras que vêm aparecendo com frequência para compor o vocabulário das mães modernas. Criadas para expressar o que nós mulheres queremos com o desabrochar natural da vida, ou seja: vivenciar em nossa maternidade a vida de forma consciente, harmônica e prazerosa. Isso, sem depender emocionalmente das escolhas e limitações das pessoas e profissionais que nos cercam.
Empoderamento, em particular, tem sido usado para definir a atitude da mulher frente à gravidez e o parto. A mulher “empoderada” é aquela que tem confiança em seu próprio corpo, acredita na natureza da vida e quer ser protagonista nesse momento singular de seu amadurecimento.
Mas nem tudo são flores. Tem um risco em se empoderar. Isso contamina, e não deixa mais você simplesmente insensível às tuas amigas, parentes ou toda mulher que passe pelo teu caminho sem querer vê-la empoderada também.
Nós, mulheres que nos sentimos poderosas queremos de forma insistente contaminar todas as mulheres possíveis com essa grandiosa vontade. Queremos empoderá-las!!
Empoderar uma mulher é acima de tudo acreditar nela, no que ela acredita ser o melhor para si e para a vida que carrega. Confiar que ela Sabe!!
Para podermos ajudar uma mulher dessa forma não baste ser em seu lugar, a protagonista de suas decisões ou escolhas. Isso vale para qualquer profissional, ou parente que esteja em contato com uma gestante.O ato de se emporedar é justamente sair de uma inércia cultural que faz com que as mães busquem sua sabedoria, no médico, na enfermeira, na família, etc... ou seja fora de si mesma.
Se você é gestante e as pessoas ao seu redor não acreditam na sua força, na sua capacidade, procure separar a insegurança deles do desejo intimo que você tem. Busque grupos e pessoas que lhe ajudem a solidificar sua segurança, confiança e certeza.
A mulher que vive sua gravidez e seu parto com autonomia, assume para si a responsabilidade de sua felicidade, de sua saúde e de sua vida. Ela aceita os acontecimentos e os transforma propiciando seu próprio amadurecimento. Aprendemos a nos comunicar intimamente com nossa profundeza feminina e, dessa forma, nos conectamos a todas as outras mulheres que aí estão e que virão!

Compartilho com você meu “processo de Empoderamento” nos meus três relatos de parto. http://aobabebe.blogspot.com/search/label/parto%20domiciliar
Mais empoderada do que nunca,
Luciana Lima

08/03/2010

Direito ao acompanhante no parto



Mulheres denunciam ao Ministério Público descumprimento da lei     

A rede de mulheres Parto do Princípio aproveita o dia 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, para denunciar ao Ministério Público abuso do poder médico e das instituições hospitalares privadas e públicas, em descumprimento sistemático da lei que garante o direito a um acompanhante no processo do parto. Simultaneamente, a Parto do Princípio divulgará os benefícios e o direito da mulher a um acompanhante no processo do parto.   
A Rede Parto do Princípio, juntamente com outras organizações civis, entrega no dia 8 de março ao Ministério Público de vários estados um documento que denuncia o descumprimento sistemático da Lei que garante à mulher o direito de ter ao seu lado um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, no parto e no pós-parto. 
O quadro do desrespeito à lei em todo território nacional é alarmante e a desinformação é geral. 
Eu fui colocada para fora da sala de cirurgia durante a cesárea da minha irmã, pelo anestesista de plantão! Quando fui agradecer por ter permitido que eu entrasse, ele disse que era contra a presença de acompanhantes, que um centro obstétrico não é um circo onde médicos dão espetáculos para estranhos assistirem, e que eu deveria sair imediatamente.", diz Vânia C. R. Bezerra.
Eu não sabia que existia essa lei, meu marido ficou do lado de fora pedindo ao médico para entrar por horas, disseram a ele que somente mulheres podiam entrar.” - denúncia anônima.
Sinto muito, mas ela não pode ficar na enfermaria com você. E também já está na hora de você crescer e aprender a fazer as coisas sozinha, já vai ter um bebê, já é bem crescidinha.” - G., de Fortaleza-CE
A mulher que nos recebeu foi muito agressiva quando insistimos para que eu pudesse ter um acompanhante e citou o caso de outro hospital grande da cidade que também não aceitava acompanhante, como se isso tirasse a responsabilidade dela.” - A., de Fortaleza-CE

Apesar da lei, a cada dia milhares de mulheres em todo Brasil sofrem esse tipo de abuso do poder médico e das instituições hospitalares privadas e públicas. 
A Parto do Princípio, neste dia 8, toma duas frentes de ação: 
- Entrará com as denúncias no Ministério Público de diversos estados.
- Iniciará uma campanha de divulgação da lei e do direito que ela protege. 
A denúncia 
Buscamos levar ao conhecimento do Ministério Público Federal um panorama do que acontece em todo o Brasil em relação à Lei do acompanhante no parto, apresentando as graves implicações para as saúdes materna e neonatal.  
Denunciamos o abuso do poder médico e das instituições públicas e particulares, demonstrando que existe um boicote em divulgar e respeitar a lei tanto nas instituições do Sistema Único de Saúde (SUS) como nas particulares. Abordamos também a completa omissão da Agência Nacional de Saúde (ANS) na regulamentação do direito e sem restrições. 
Fatos sobre a lei 
No dia 7 de abril de 2005, entrou em vigor a Lei 11.108 que garante às parturientes o direito à presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.
No dia 2 de abril de 2008, entrou em vigor a Resolução Normativa nº 167 da ANS, na qual atualiza as diretrizes para os planos privados de assistência à saúde constando a exigência da cobertura de um acompanhante indicado pela parturiente nos Planos Hospitalares com Obstetrícia.
No dia 3 de junho de 2008, a ANVISA, através da Resolução da Diretoria Colegiada nº 36, no item 9.1 prevê que "O Serviço deve permitir a presença de acompanhante de livre escolha da mulher no acolhimento, trabalho de parto, parto e pós-parto imediato" reiterando o direito para os atendimentos particulares. 
Já se passaram quase 5 anos desde que a Lei 11.108 entrou em vigor. A grande maioria dos serviços de saúde ainda não permite a entrada de acompanhante, restringe o seu tempo de permanência, cobra uma taxa para sua entrada, ou limita a escolha da parturiente. 
Apesar de ser de conhecimento da classe médica que o acompanhante traz muitos benefícios para a saúde da mulher e do bebê, esse direito continua a ser negado ou cerceado!”, afirmam membros da rede Parto do Princípio.
Uma questão de saúde 
Os benefícios da presença de um acompanhante para a parturiente e para o recém-nascido foram amplamente demonstrados. Entre outros, a presença do acompanhante foi relacionada à diminuição do tempo do trabalho de parto e parto e a melhores índices de Apgar no bebê. 
A Organização Mundial de Saúde recomenda a presença de um acompanhante de escolha da mulher desde 1996 (OMS). 
Nossas propostas 
Junto ao documento, várias propostas de soluções foram apresentadas, entre elas: 
- Exigir que a Lei seja afixada em quadro de informações na recepção das maternidades públicas e privadas.
- Que as mesmas informações estejam impressas no Cartão da Gestante.
- Estabelecimento de uma multa a ser paga pela instituição em caso de denúncia de descumprimento da Lei.
- Que seja criada campanha de veiculação do direito na mídia, orientando para os meios de fazer valer este direito ou denunciar casos em que tenha sido negado. 
A divulgação 
Divulgaremos a Lei do Acompanhante para que as usuárias do sistema de saúde tomem conhecimento do seu direito e possam exigir que ele seja respeitado no estabelecimento em que elas vão dar à luz. A tomada de consciência da população deste direito é o caminho para obtermos mudanças na postura dos médicos, hospitais e maternidades que continuam negando ou cerceando esse direito às mulheres. 
A Parto do Princípio é uma rede de mulheres, consumidoras e usuárias do sistema de saúde brasileiro, que oferece informações sobre gestação, parto e nascimento baseadas em evidências científicas e recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Conta hoje com mais de 250 pessoas trabalhando, voluntariamente, em 16 estados e no Distrito Federal, na divulgação dos benefícios do parto ativo.