Semana passada estive no CICI (conferência de cidades inovadoras) em Curitiba, pois trabalho e tenho interesse no tema de como as cidades vão superar seus desafios com foco na sustentabilidade. Esperando a fala de abertura do Jaime Lerner, auditório lotado, eu conversava com um colega, quando uma imagem me chamou a atenção. A mais terna de todas as imagens: uma mãe levando consigo seu filho.
Um bebê de poucas semanas tinha o prazer de estar junto do corpo e da respiração da sua mãe que o carregava com um wrap sling. Não pude deixar de me aproximar e meio timidamente perguntei : é da Aobä?
Anos atrás, quando a Lu e eu, na cozinha da nossa casa em Paris, começamos a pensar em voltar para o Brasil decidimos que não voltaríamos apenas, mas sim que iríamos para o Brasil para realizar um projeto cujo valor central seria o de mais harmonia e beleza na relação entre pais e filhos. Percebemos logo que o Wrap Sling (echarpe em francês) seria o produto central deste trabalho, pois é uma solução que integra tudo o que queríamos passar. Como a Lu sempre diz, toda civilização ao longo da história da humanidade teve seu carregador para que as mães não deixassem de ter seus filhos próximos do seu corpo. E quanto mais intenso foi este contato, mais pacifica e criativa era aquela civilização.
Assim me recordo que na época brincávamos de sonhar com o dia em que veríamos as mães (e pais) andando juntinho com seus bebês, nas ruas, no trabalho, em casa, num abraço proporcionado pelos nossos wraps. Eu vibrava com esse sonho, pois percebia os inegáveis benefícios que este contato afetivo fazia ao Rudá e à Serena, que então tinha apenas alguns meses.
A moça da palestra se voltou delicadamente e com um sorriso me respondeu: é sim, é da Aobä. Você conhece?
Este fogo de alegria que mora dentro da gente se acendeu no momento, e me senti como o sol de manhã. Dá pra imaginar o tamanho do meu sorriso. Depois de alguns anos, já não era mais sonho, e era melhor que o sonho.
Eu via uma mulher, podendo participar de uma conferência internacional sem ter que sofrer para deixar seu filho com outra pessoa ou em uma instituição. Eu via uma mãe que podia responder às necessidades do seu filho sem ter que deixar de participar de algo importante para ela, garantindo sua total autonomia. Fascinante podermos proporcionar esta alternativa às famílias que trazem dentro de si a vontade de estarem com seus filhos.
Mais tarde, na sua palestra, o Jaime Lerner resumiria que uma cidade, ou a vida, precisa ter um sonho e que você precisa acreditar nele. Segundo ele, com o tempo você esquece do sonho, mas ele não esquece de você, e dá uma volta e te encontra mais tarde, e diz: Oi! Lembra de mim? Eu sou o teu sonho! E é neste exato momento que você tem a oportunidade de não deixar de viver sem ele.
Ao ouvir isso, eu apenas sorri, e olhei para a mãe que, a alguns metros de onde eu estava, assistia a palestra e doce e discretamente amamentava seu bebê.
Autor: Mario Lima
Um comentário:
Queridos,
Eu li este post mas a correria não me deu o tempinho para comentar.
Mais uma coincidência dessa vida... Na mesma semana que vc postou comentava sobre vcs, sobre o retorno para o Brasil. Lembro-me do sonho, do desejo em apresentar para as mães uma maneira diferente de cuidar de seus filhos, carregando-os no colo. Lembro-me de um comentario do Mario de que a violência no Brasil seria diminuida se as mães passassem mais tempo dando o aconchego para os seus filhos e isso viria do colo.
Sempre senti que o sonho de apresentar a écharpe aos pais brasileiros (e dos beneficios e nao uma questao de que é moderno e bonitinho) era um bom caminho. E mais, vcs levarem a bagagem pessoal de humanização do parto no pais da cesarea faria parte de um plano, porque não diser, divino. Vcs partiram em boa hora, levaram a bagagem pessoal cheia de amor e respeito ao desenvolvimento dos pequenos. Tudo que a gente faz com amor e sinceridade, mesmo que o sucesso não viesse, tenho certeza que a realização interna de poder ajudar nas vidas das pessoas ja valeria a pena.
Vibramos com cada sucesso de vcs. E imagino a sensação de ser essa mãe no congresso com o filho sendo portado no calor do corpo da sua mãe. Realmente é materialização de um sonho. Eu sabia que isso um dia aconteceria.
Amamos vcs e por fazerem parte da nossa vida.
Bisous,
Ana, Juju e Béatrice : )
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